Espantalhos
Por estes dias, me deparei com uma foto de um desfile de modas. Não que seja um dos meus assuntos preferidos, mas, atualmente, as mídias sociais nos presenteiam com assuntos diversos como este, sem que precisemos abrir o caderno “Ilustrada” da Folha de São Paulo. O título da foto era: Lançamento da linha masculina outono-inverno da Gucci.
Graças à generosa descrição do amigo que enviou a foto, eu não tive necessidade de me esforçar para adivinhar que eram homens na imagem. Não se pareciam com homens. Nem de longe. Estavam mais para espantalhos. Mas eram espantalhos sutilmente vestidos com roupas de mulher.
Sutilmente? Alguém pergunta. Certo, nada sutil. Eram bolsas, vestidos, barrigas de fora… até um sapato vermelho.
Um suspiro de quase-desânimo acompanhou uma pergunta que fiz em pensamento pela milionésima vez: Meu Deus! O que está acontecendo? E as respostas vieram, como sempre vêm, cada vez mais claras e impactantes.
Talvez com exceção apenas do mundo muçulmano, a humanidade se dobra hoje a uma nefasta campanha massiva e organizada de desvalorização da masculinidade. Eu até digo mais. Uma campanha de desmoralização da masculinidade. Termos como a tão propagada “masculinidade tóxica” permeiam a gramática da nova linguagem aos poucos moldada pelo “politicamente correto”, condenando comportamentos naturalmente masculinos, incentivando atitudes que drenam a tão necessária força que faz um homem ser homem, criando um universo de homens fracos, sem vontade, perdidos em meio ao milharal.
Espantalhos. Espantalhos que não espantam os corvos das dificuldades da vida, não se responsabilizam, não fazem compromisso…
Acredito que seja até “natural” no ser humano, algo parte da nossa essência, buscar culpar alguém pelos próprios problemas. Uma parte de nós não quer enfrentar a dolorida peleja diária de encarar a si mesmo e ao mundo.
Quando essa tendência vitimista é potencializada, de forma intencional e organizada, em pessoas fragilizadas, um clamor por revolução é o resultado esperado. Um número cada vez maior de pessoas frágeis e inadequadas, que não se ajustam às categorias e padrões que nos organizam, há milênios, enquanto personalidades minimamente saudáveis, dá corpo a um movimento orquestrado que pretende desestruturar padrões e tradições de nossa sociedade, visando a ajustar a sociedade às particularidades de cada excluído.
O avanço desta sanha revolucionária tem deformado conceitos fundamentais, não só para o equilíbrio da sociedade em si, mas essenciais para a organização de nossas percepções mais básicas enquanto Ser, coisas basilares para a formação da personalidade de cada indivíduo.
Percepções de aspectos simples da existência, que levam a entendimentos de coisas mais complexas ao longo da vida estão sendo relativizadas. Conceitos que nos dão chão, como sim e não, homem e mulher, gato e cachorro estão sendo misturados em um liquidificador de cérebros e corações. Não se tem notícia, em outros tempos não muito distantes do nosso, de tantos casos de transtornos mentais e emocionais como temos visto atualmente.
A proporção de pessoas que se utilizam de medicação tarja preta é algo assustador se comparado a outras épocas. Nas escolas, Ritalina é balinha. Causa tristeza conversar com profissionais da área da educação sobre o estado de nervos das crianças.
Uma revolução cultural da inclusão não terá, infelizmente, o poder de corrigir os desajustes individuais. Pelo contrário, tem colocado parte da humanidade em uma espiral descendente e viciosa.
Mas por que este movimento? A quem interessa homens fracos que nem a si mesmos têm a capacidade de dominar? A quem interessa homens sem liderança, sem compromisso, sem força e sem fé? Pessoas desse tipo interessam a quem quer facilidade para controlar e dominar. Pessoas deste tipo interessam para quem precisa de escravos e sabe que os mais fortes grilhões se formam na mente e no caráter do próprio prisioneiro.
Mas hoje eu não vou falar de globalismo, nem de ONU ou UNESCO. Pode guardar seu capacete de alumínio. Hoje não tem “teorias da conspiração”.
Se, em minha visão, a catástrofe não é social, vamos então acurar a visão e apurar o foco.
Para cada veneno, o seu antídoto. Hoje quero falar do que penso ser parte do antídoto para este grande problema.
Sim. O problema é grande. Na verdade, é enorme. Mas dá pra fazer com que diminua de tamanho se buscarmos formas de combatê-lo no nosso dia-a-dia. Quando colocamos a solução de um determinado problema no centro do nosso cotidiano, podemos fazer com que aquele se fragmente em pequenos problemas que podem ser combatidos de formas simples e possíveis.
A formulação do antídoto de hoje tem como veículo um elemento Primordial, datado de tempos imemoriais: a Família. O princípio ativo neste caso (já que ele pode mudar conforme seja o veneno a ser combatido) é bem conhecido, mas, hoje em dia, pouco utilizado. Chama-se pai. Este aqui com “p” minúsculo. Já te explico o porquê.
Começo pela definição da palavra “pai” no dicionário Priberam Online – desculpe, eu não tenho o Aurélio.
pai
substantivo masculino
1. Aquele que tem um ou mais filhos.
2. Homem que cria e educa criança ou adolescente que não foi gerado por ele, mas com quem estabelece laços paternais e a quem pode estar ligado por vínculos jurídicos.
3. Gerador; genitor; progenitor.
4. [Figurado] Criador; autor.
5. Protetor, benfeitor.
Um adendo: Me estranhou o fato de que, em todos os dicionários online onde pesquisei a definição da palavra “pai”, apenas neste aparece a palavra “educação” e, mesmo assim, relacionada à figura que eu sempre conheci por “padrasto”. Em nenhum eu pude encontrar o termo “Homem que cria e educa” diretamente ligado à figura do pai. É mais um sintoma. Cuidemos.
Voltando ao desenvolvimento. A definição da palavra começa com a classificação gramatical. Substantivo Masculino. Classificação importantíssima para o tema. Substantivo é o que dá substância à oração. Corpo, estrutura. E masculino define esta estrutura como sendo “de homem”. O pai, então, é o homem – que é substantivo, mas também é verbo – que tem a função, o dever, de proporcionar estrutura para seus filhos. E como age este princípio estruturante, agora verbo? Age pelo exemplo, pela educação.
Educar uma criança não é uma tarefa fácil, mas também não é algo muito complexo. Digo que não é fácil porque é uma atividade que não cessa e exige atenção constante, tanto nos filhos quanto em si mesmo.
Atenção nos filhos porque os comportamentos indesejáveis devem ser corrigidos sempre, para que a criança conheça do critério e da coerência. Atenção em si mesmo porque corrigir-se é o primeiro ato de um pai zeloso, que sabe que a principal baliza de seus filhos é o exemplo do que ele vê dentro de casa. Digo que educar, apesar de não ser fácil, não é algo complexo. É simples. Por que digo que seja simples? Porque ninguém precisa ser PhD em modernas técnicas de psicologia educacional para exercitar um pilar elementar da boa educação: Autoridade.
Uma vez fui à escola dos meus filhos para uma reunião com a Coordenadora. Estava no pátio da frente aguardando o horário e percebi um homem grande, quase dois metros de altura, implorando ao seu filhinho de 4 anos para que aceitasse ir para a escola naquele dia. O garoto dava um baile no pai que, impotente, só sabia implorar mais, com voz de desespero.
Fiquei com pena. Da criança. É uma pena que pais inseguros permitam que seus pequeninos os tiranizem daquela forma. E aquele não foi um episódio isolado. É até bastante comum a quem observa o comportamento humano quando vai a lugares públicos.
Autoridade é o lugar de domínio dentro de uma determinada circunstância, em um determinado território. No território da família, na circunstância da infância, os filhos estão sob a guarda e autoridade dos pais. Desde a Criação. Caim recebeu do Pai (este com “P” maiúsculo), do Verbo, a sentença pelo crime cometido contra seu irmão Abel. Aqui, a Autoridade do Verbo em ação. Agindo e estruturando.
A Autoridade do Senhor, do Pai Criador, com P maiúsculo, é representada, no território da família, em lugar, pela autoridade do pai com “p” minúsculo. Uma criança que vê em seu pai uma figura de autoridade trilha os caminhos da vida com maior grau de segurança em si mesma. A autoridade, no seio da família, é a capacidade de estabelecer limites de comportamentos adequados, que se refletem em limites internos na formação do caráter e da personalidade, prevenindo e remediando as relativizações “esquizofrenizantes” tão em voga.
Quando bem administrada a autoridade, sem autoritarismo, mas com firmeza e carinho, os caminhos do reconhecimento se abrem com mais facilidade, trazendo os limites necessários a uma vida mais equilibrada, facilitando até a introdução do Ser às sendas da Espiritualidade, pelo Reconhecimento ao Pai, advindo do reconhecimento ao seu representante, o pai. E, com o Pai, os corvos não têm vez.