O Neoconstitucionalismo Progressista
Quando Donald Trump foi banido do Twitter e de outras redes sociais, no exercício pleno da Presidência dos Estados Unidos - e sem qualquer comprovação de que tivesse incitado seus concidadãos a protestos violentos, em um dos episódios de censura mais escancarados da história -, não foram poucos os constitucionalistas autodeclarados ou portadores de alguma espécie de diploma que saíram em defesa da censura: “autoritarismo necessário”.
LEONARDO PAUPERIO
Passados alguns dias, entretanto, quando a obviedade da censura grotesca uniu em uma mesma causa a chanceler alemã Angela Merkel, o Partido da Causa Operária, o cientista político russo Alexander Dugin, dentre muitos outros que enxergaram o óbvio, os mesmos constitucionalistas modularam os seus discursos – com uma moderação disfarçada, pelo silêncio ou simplesmente mudando de assunto -, revelando, para quem ainda não tinha visto, que muitos professores de Direito no Brasil e no mundo estão pautados pela linha ideológica da grande mídia progressista.
Isso é grave, e revela a face obscura de um problema que a sociedade brasileira precisará enfrentar quando quiser resolver a péssima qualidade do ensino jurídico no país: as faculdades de Direitos estão tomadas por pseudocientistas ideologicamente orientados e motivados.
Esse problema não tem como consequência direta apenas a mesmice dos assuntos que dominam, hoje, a vida universitária no Brasil. Isso ocorre, é verdade. Os eventos realizados, na forma de seminários, conferências, encontros, tudo gira em torno dos mesmos assuntos: gênero, homofobia, transfobia, racismo, “direito” ao aborto, “direito” de crianças escolherem e “mudarem” de sexo, patriarcado, feminismo, e muito mais.
É samba de uma nota só.
E, para tais eventos, apenas a parcela de professores comprometida com a causa pode participar, os mesmos que adquiriram os tais diplomas superiores junto aos seus pares ideológicos com pesquisas desenvolvidas nos mesmos temas. É um círculo fechado com diversos instrumentos de autopreservação e autopromoção. São sempre os mesmos. Professores com perfil conservador já estão cancelados.
Mas o problema é mais profundo. Atinge o que os professores possuem de mais sagrado no exercício de suas nobres responsabilidades: a liberdade de cátedra.
Formalmente, até que existe, com mais robustez para a turma progressista. Falam o que querem, quando querem. Para os conservadores, vige a vigilância sob a forma de patrulhamento. Uma palavra a mais, obviamente no contexto do neovocabulário politicamente correto e sufocante, é sujeito prejudicar a honra e a carreira de uma pessoa de bem. Materialmente, na essência, nas veias e no coração, a liberdade de cátedra foi fatalmente ferida.
Muitos ainda não perceberam. Pensam que o seu pensamento é livre e que todos os seus posicionamentos são fruto de seus estudos e pesquisas. Nada entendem e jamais se permitiram ouvir falar das diversas e comprovadamente eficazes técnicas de engenharia social. Sequer imaginam que a sociologia já evoluiu a tal ponto que consegue manipular o pensamento e comportamento humanos, em massa, com relativa facilidade.
E sua elevada eficiência pode ser comprovada pela dificuldade que pessoas de inteligência até mediana têm de percebê-las. Dentro dessa caverna, nomes como Edward Bernays, Kingsley Davis, Burrhus Skinner, Mustapha Sherif, Ivan Pavlov, dentre muitos outros, ou não são conhecidos ou habitam as construções negacionistas de cada vez mais mirabolantes teorias da conspiração.
O fato é que se formou uma classe do que estou chamando de neoconstitucionalistas progressistas. Foram formados dentro de uma concepção progressista de mundo, com autores alinhados em sua totalidade com a ideologia progressista de direitos, com valores e moral próprios.
Na sua visão progressista do sistema jurídico, a democracia permite, por exemplo, liberdade total para os alinhados, e censura para os não-alinhados. Para o pensamento divergente: cancelamento, um nome menos agressivo para o desprezo e o banimento acadêmico.
Característica marcante dessa geração é o descolamento da realidade. Defendem a liberdade de religião in vitro, mas não são capazes de condenar ou de perceber a gravidade quando uma igreja é incendiada. Pregam a paz, mas, quando um traficante comete um assassinato, imediatamente clamam pela sua liberdade, seja porque as prisões estão superlotadas, seja porque é apenas uma vítima da sociedade patriarcal opressora.
Predominam o pensamento confuso e a falta de coerência. E, quando confrontados, um ódio stalinista “democrático” os atinge. É quando se valem de um vasto repertório progressista para aniquilar os divergentes: racista, misógino, homofóbico, facista.
O antídoto para tanto veneno não virá de fora.
Está dentro de cada um. Somente quando o ser humano olha para dentro de si e se faz algumas perguntas, é que começa a quebrar os grilhões da própria ignorância. Recursos há. Olhemos para a história.
Não foram poucos os que nos antecederam com uma palavra de verdade e de realidade. Valendo-se do assunto do momento, o que diria Sócrates dessa censura? Platão? Aristóteles? Tomás de Aquino? Ruy Barbosa? Calmon de Passos?
Por amor à Verdade e à Realidade, espiemos para fora da caverna. Há luz.